quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Escolas particulares começam a alfabetizar alunos a partir dos 3 anos


Impulsionados pelo ensino fundamental de nove anos e tendo como bandeira o lema de que quanto mais cedo começar melhor será o desempenho no futuro, escolas e pais têm antecipado o início da alfabetização formal de crianças dos 6 e 7 anos para os 3 e 4. Essa alfabetização precoce, mais comum nos colégios de classe média, tem despertado polêmica entre famílias, escolas, educadores, psicólogos e médicos. Pelo método tradicional, definido ao longo do último século, a idade para a criança aprender a ler e escrever está entre os 6 e 7 anos. Antes disso, é tempo de brincar, explorar os sentidos, desenvolver a coordenação motora e interagir com outras crianças. A boa educação infantil, por esse viés, é a que propicia essas descobertas de maneira lúdica e estimulante. Porém, para alguns grupos, esse roteiro não parece mais suficiente. O argumento está na velocidade do mundo. Computadores e videogames têm submetido as crianças ao universo letrado mais cedo. E, teoricamente, preparando-as antes para os códigos alfabéticos. A diretora da escola Bola de Neve, dos Jardins (zona sul de São Paulo), Theodora Maria de Almeida, defende a antecipação cuidadosa, com o apoio das famílias. "Vamos alfabetizando lentamente, ao longo de todo o ensino infantil", diz. "Aos 2 anos, a criança aprende a identificar o nome. Aos 3, o nome dos amigos e palavras do cotidiano e, aos 4, ela lê livros. Com 5, está mais resolvida com isso, respondendo bem à alfabetização." DESINTERESSE Para especialistas, é preciso ter cuidado. Submeter crianças pequenas a um modelo similar ao do ensino fundamental, com separação de disciplinas, lição de casa e cobrança de desempenho pode gerar desestímulo e dificuldade. "Elas têm ritmos diferentes. Algumas se alfabetizam cedo, mas muitas não conseguem, não porque tenham dificuldade de aprendizagem ou sejam menos inteligentes, mas porque não estão prontas", diz Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP. Para ela, a escola deve inserir a criança no mundo letrado, o que não é o mesmo que alfabetizar. "Não é ensinar a ler com 4 anos, mas contar histórias, ditar um bilhete, dar quebra-cabeça de letras. Não tem a ver com competição e comparação." Liamara Montagner, coordenadora de educação infantil do Colégio Santo Américo, afirma que o mais difícil é segurar a ansiedade dos pais. "Costumo dizer que os pais querem que o filho seja tratado individualmente, mas na hora de comparar, quer que sejam iguais." A recusa em se adaptar ao modelo levou a especialista em educação ambiental Hegli Kovacic a peregrinar para achar uma escola para o filho em Santo André. "Com 4 anos, ele tinha aula de português, matemática e ciências, com tarefa de casa. Ele ficava copiando letras que não faziam sentido para ele. Reclamei com a diretora, que disse que era o sistema atual", conta. Ela então matriculou numa escola menor. No entanto, dos 5 para os 6 anos, ao procurar um colégio para o ensino fundamental, foi recusada. "Falavam que ele estava atrasado." O diretor de escola Anderson Paulino diz que lutou para que seus filhos fossem alfabetizados só aos 6 anos. "É uma ilusão achar que quanto mais cedo ele escrever melhor será o desempenho dele no futuro. A gente às vezes cai em modismo e esquece da criança." A educadora Ângela Soligo, da Unicamp, concorda. "A alfabetização a partir dos 6 anos não foi definida à toa. Antes disso, você cria uma tensão desnecessária na vida da criança." Fonte: www.estadao.com.br

3 comentários:

  1. oi. adorei seu blog e obrigada pela visitinha no meu, só que espero vc lá como seguidora hein? beijos carinhosos...

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  2. Em Belo Horizonte temos nos deparado com o mesmo cenário, imposto em maioria pela classe media e alta para contrapor a escola publica.
    Na escola de meu filho estamso tentando organizar um grupo para discutir essas e outras questões da contemporaneidade. Fico muito satisfeita que esse é um movimento m outros locais. Abraço, Luciana.

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  3. Olá! Estava pesquisando o assunto e me deparei com essa matéria, na qual fui entrevistada no ano retrasado se não me engano.
    Posso afirmar que alfabetizar o meu filho após o 6 anos foi a melhor coisa que fiz. Como na epoca nao tive opção matriculei-o duas vezes no pré (hj primeiro ano). Atualmente no colegio ele é o mais velho na turma (com 10 anos no quarto ano), porém tira notas muito boas, acompanha todo conteudo e faz as lições de casa sozinho e faz os esportes extra-currilares no contraturno enquanto muito de seus colegas de classes estão no reforço escolar.
    Concluindo, valeu muito tomar a decisão de ir contra a alfabetização precoce imposta pelas escolas.
    Abraço
    Hegli
    http://educacaoambientalcontemporanea.blogspot.com/

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