segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Agora, até bebês são submetidos a dieta


Por causa de preocupação exagerada com obesidade infantil, mães obrigam filhos a restrições alimentares prejudiciais

Regime inadequado para idade pode levar a deficiência de ferro, desequilíbrio hormonal e baixo crescimento

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

Elogiar as dobrinhas daquela criança fofa pode não ser mais adequado. Mães preocupadas demais com obesidade estão regulando a alimentação dos filhos, isto é, colocando bebês de dieta.
O fenômeno é raro, mas está crescendo, de acordo com especialistas. "Já peguei mãe suprimindo totalmente os carboidratos da dieta, o que é um erro. Não pode tirar uma fonte energética, usada no crescimento", diz a pediatra Cristiane Kochi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Mães obesas que levam filhos ao consultório com problemas de crescimento vêm chamando a atenção de Zuleika Halpern, especialista em obesidade infantil e membro da Abeso (entidade para estudo da obesidade).
"Verificamos que elas oferecem alimentos inadequados, como leite desnatado, e em pouca quantidade, por medo de as crianças serem obesas também."
Halpern afirma que, em um dos casos, quem "entregou" o problema foi a avó da criança, já que a mãe não admitia que tinha essa conduta.
"É mais comum que as mães obcecadas com seu próprio peso "torturem" seus bebês na alimentação", diz a médica. Segundo ela, meninas são as maiores vítimas.

TURMA "LIGHT"
Há dois perfis de pais que submetem os bebês a dietas por conta própria, diz o pediatra Mauro Fisberg, especialista em nutrição infantil.
O primeiro é o pai obeso que sofre de culpa e teme que o filho seja gordo também. O segundo é o ortoréxico (com mania de alimentação saudável), que veta carne e doces em favor de produtos light ou naturais. "Fazem da criança um laboratório", diz o médico, que já viu o problema em bebês de oito meses.
Essas restrições podem levar a deficiência de ferro, por falta de carne, desequilíbrio hormonal, por falta de gorduras, e a baixo crescimento, hipoglicemia e alterações no metabolismo, por falta de carboidratos.
A paranoia dos pais tem uma base real. A obesidade infantil está crescendo no mundo todo, Brasil incluído. Dados do IBGE mostram que um terço das crianças de até cinco anos está acima do peso. Essa proporção triplicou desde a década de 70.

MACACÃOZINHO
Nos EUA, onde o problema é mais grave, a obesidade de berço já virou até tema para programa de humor.
O "Saturday Night Live" (que passa aqui no canal Sony da TV por assinatura) fez uma paródia de comercial, na qual o produto era um macacãozinho elástico, para deixar bebês mais esbeltos (tinyurl.com/2bz2jhe).
Fisberg conta que, há alguns anos, o termo "obesidade" deixou de ser usado para bebês nas recomendações mundiais de crescimento infantil. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde voltou a incorporar a categoria, dada a gravidade.
Isso não significa que o bebê deva ser colocado de dieta, como se fosse um adulto.
"Se eu tenho uma criança que come compulsivamente, posso limitar o volume de alimento, mas preciso saber o motivo. Mães ansiosas tendem a colocar a criança para mamar no peito com muita frequência." Esse comportamento leva a criança a ignorar os sinais do próprio corpo de que ela está satisfeita.
"O que a gente indica é uma dieta saudável. Damos orientações sobre a quantidade certa, o tipo de preparo e fazemos trocas de alimentos", afirma Cristiane Kochi.

Fonte: Folha de São Paulo

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