sábado, 16 de outubro de 2010

Dinheiro: oito erros na educação dos filhos


Quando o assunto é dinheiro, a grande influência na vida de uma criança são seus pais.


Anna Paula Buchalla
abuchalla@abril.com.br


"Mas a educação financeira das crianças não se resume a ensiná-las a poupar", diz a educadora Cássia D’Aquino. "Elas precisam aprender também como gastar o seu dinheiro." A cada fase da infância e da adolescência, amplia-se a capacidade de compreender o valor das coisas e planejar a vida financeira de curto, médio e longo prazos. Não transmitir informações na hora certa e da forma adequada significa aumentar o risco de que o adulto tenha uma relação ruim com o dinheiro. Psicólogos e educadores ouvidos por VEJA elencaram os erros mais comuns cometidos pelos pais na educação financeira dos filhos em várias faixas etárias.



De 5 a 7 anos


A capacidade de entender questões relacionadas a dinheiro ainda é pequena. A criança não está pronta para controlar gastos nem para diferenciar o caro do barato

Os erros mais comuns nessa fase

Situação 1: pôr o filho a par de todos os detalhes da situação financeira da família – quanto os pais ganham, quanto custa cada coisa da casa, quais as dívidas
Por que os pais o fazem: acreditam que a criança deve, desde cedo, conhecer a realidade financeira da família para que entenda que é preciso economizar
Por que está errado: se os pais começam a detalhar contas, gastos e dificuldades, as crianças podem entender que custam muito caro à família e ficar angustiadas. É comum que comecem a dizer que não precisam de determinadas coisas – um comportamento que os pais acham "bonitinho" mas que, nessa faixa etária, costuma ser sinal de ansiedade
A estratégia correta: a criança precisa de exemplos práticos para começar a entender o valor das coisas. Se a família vai viajar nas férias, já é um bom começo pedir a ela que participe das economias da casa naquele momento específico

Situação 2: esconder do filho dificuldades financeiras e sustentar, com grande sacrifício, um padrão de vida irreal
Por que os pais o fazem: porque temem frustrar a criança
Por que está errado: isso dá à criança uma visão distorcida das suas possibilidades. No futuro, ela pode se tornar um adulto que faz qualquer coisa para aparentar um poder aquisitivo que não tem
A estratégia correta: sempre que houver dificuldades financeiras, a criança deve ser informada da verdade e das providências tomadas: sem floreios nem excesso de negatividade



De 8 a 12 anos


Nessa fase surgem as primeiras comparações com a situação financeira dos amigos. Roupas e acessórios de marca passam a fazer parte da lista de vontades dos filhos, e é comum que eles perguntem sobre as finanças dos pais. Ainda não entendem situações complexas como dívidas da família

Os erros mais comuns nessa fase

Situação 1: abrir uma poupança para aplicar a mesada do filho – e impedi-lo de mexer nesse dinheiro
Por que os pais o fazem: porque acreditam que é importante ensinar os filhos a poupar desde cedo
Por que está errado: parte do processo de aprender a economizar dinheiro é saber como gastá-lo. E isso inclui fazer escolhas e, eventualmente, arrepender-se delas
A estratégia correta: até os 11 anos, a melhor maneira de ensinar a poupar é estimular objetivos de curto prazo. Um exemplo: se a criança quer comprar figurinhas e precisa poupar 1 real por semana, ajude-a a economizar usando o cofrinho. A partir dos 12 anos, a poupança é uma opção, mas sem o uso do cartão

Situação 2: estabelecer valores para tarefas da casa como arrumar o quarto ou ajudar a lavar a louça
Por que os pais o fazem: para estimular a criança a fazer tarefas às quais não está acostumada e ensinar-lhe o valor do trabalho
Por que está errado: atrelar um preço ao que a criança faz transforma a relação entre pai e filho em um negócio – e isso diminui a autoridade dos pais
A estratégia correta: antes dos 11 anos, vale mostrar à criança que ela deve ajudar em casa porque faz parte da família, e não pelo dinheiro. A partir dessa idade, os pais podem "contratá-la" para uma tarefa específica, como lavar o carro ou dar banho no cachorro

Situação 3: dar dinheiro ao filho como forma de prêmio por ter conseguido boas notas na escola
Por que os pais o fazem: para tentar manter o controle sobre o desempenho escolar da criança
Por que está errado: prometer remuneração para boas notas é mostrar à criança que o importante é o resultado, e não o processo de aprendizado
A estratégia correta: jamais ofereça dinheiro como recompensa por um bom desempenho. Há outras opções para gratificar o filho, como fazer elogios ou mesmo levá-lo ao restaurante de que gosta



De 13 a 17 anos


O adolescente já tem alguma capacidade de compreensão, organização e planejamento a médio prazo do uso do dinheiro. No entanto, ainda tem dificuldade com o manejo a longo prazo

Os erros mais comuns nessa fase

Situação 1: dar ao filho adolescente um cartão de crédito
Por que os pais o fazem: porque acham que os filhos já têm maturidade suficiente para usá-lo
Por que está errado: o cartão de crédito ensina somente a gastar e nunca a economizar. Isso solapa o aprendizado da poupança, que é especialmente importante na adolescência
A estratégia correta: o cartão só deve ser introduzido a partir dos 18 anos e, ainda assim, em uma conta conjunta com um dos pais. É a forma de acompanhar de perto a relação do filho com os gastos. Se o cartão for necessário antes dessa idade, como no caso de viagem, é bom dar a ele primeiro um cartão de débito. Fica mais fácil controlar o que entra e o que sai

Situação 2: abrir uma conta para o filho e acompanhar o extrato sem que ele saiba
Por que os pais o fazem: para manter algum controle sobre a vida dos filhos
Por que está errado: depositar confiança gradualmente no filho à medida que aumenta a sua capacidade de organização financeira é um passo fundamental na educação. Se ele se sente espionado, a tendência é tentar burlar os mecanismos de controle ou desafiar os pais
A estratégia correta: uma vez aberta a conta, é preciso dar autonomia ao filho. Se ele gasta a mesada muito rápido, algo pode estar errado, e aí, sim, é bom investigar



De 18 a 21 anos


Ele já é perfeitamente capaz de assumir sua vida financeira, fazer escolhas e ser responsável por seus atos

O erro mais comum nessa fase

Situação: dar mesada ao filho com mais de 21 anos
Por que os pais o fazem: como os filhos estendem cada vez mais a permanência na casa dos pais, muitos continuam a tratá-los como dependentes, ainda que já sejam maiores de idade e recebam o próprio salário
Por que está errado: o jovem não se sente estimulado a trabalhar. Muitas vezes o salário é inferior ao que recebia dos pais. Frustração e acomodação no início da vida adulta comprometem o amadurecimento
A estratégia correta: é importante que, a partir do momento em que entra na faculdade e começa a fazer um estágio, o filho assuma pequenas contas ou despesas da família. Pode ser a própria conta de celular, a gasolina do carro ou mesmo o pão que compra todos os dias pela manhã


Fonte: Veja

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