terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sexualidade da criança

Nova fase, novas preocupações. Buscando algumas respostas encontrei o texto abaixo e resolvi compartilhar a informação.

"Ao abordar o tema da Educação Sexual, deparamo-nos com uma realidade com a qual pais e educadores sentem a responsabilidade de informar e debater questões ligadas à sexualidade, com os seus filhos. Contudo, por se tratar de uma área que pode, muitas vezes, ser interpretada de forma reducionista, com uma carga sexual-genital, os agentes educativos tendem a sentir algum embaraço e insegurança na forma de abordar o tema. Na generalidade dos casos, a inexistência de modelos na sua própria infância, torna esta tarefa parental nova e, deste modo, vêm-se como menos preparados para a realizar.

Para tal há que considerar o que é a Educação Sexual: é realizada mesmo quando julgamos que não o fazemos. Ela está ligada à vida: aos momentos que partilhamos, ao mudar as fraldas, os afectos, as carícias, comentários a um programa de televisão, o momento de dar banho, os exemplos que damos, etc.

Desta forma, é importante que tenhamos em conta que estamos a moldar as nossas crianças, bem como a transmitir-lhes valores, mesmo quando pensamos que não. Como essa educação sexual já está, mesmo que implicitamente, a ser desempenhada, é chegada a altura de assumirmos a importância da sua abordagem explícita.

Grande parte dos problemas ligados à vivência da sexualidade têm origem na falta de informação e na ansiedade daí gerada. Da mesma forma, a ignorância sobre estes assuntos poderá resultar numa baixa auto-estima, promover um desenvolvimento não harmonioso, desencadear situações de culpa ou de medo. Mesmo actualmente, numa sociedade caracterizada pela facilidade em adquirir informação, a importância da família é sempre distinta, dada a tonalidade emocional e afectiva implícita.

Daí a importância de promover uma educação sexualizada, e contribuir para a formação de crianças, jovens e futuros adultos com mais capacidade de se sentirem bem consigo próprios, de amar, de se realizarem sexualmente, de se sentirem felizes.

Nascimento da criança
A sexualidade é uma força viva do indivíduo, um meio de expressão dos afectos, uma maneira de cada um se descobrir, bem como descobrir os outros.

Desta forma, é desde o nascimento da criança que se deverá começar a pensar em Educação Sexual, algo que não pode ser considerado distinto de todo o processo educativo.

Nos primeiros meses de vida, toda a relação está ligada ao tocar, às carícias, às respostas dadas às necessidades que a criança vai manifestando, ao contacto corporal que se permite e se promove. Esta fase centra-se muito na estimulação da capacidade de comunicar, de desenvolver sentimentos associados à segurança e à confiança, que permitirão equilibrar e estruturar as reacções afectivas que se desenvolverão no percurso de vida. Desta forma, estamos a promover as bases para uma boa evolução afectiva, sexual e social.

Identidade Sexual
O processo que vai permitir à criança encontrar a sua identidade sexual, o ver-se como pertencente ao sexo que tem, inicia-se muito precocemente. Na maioria dos casos, tal começa a ser trabalhado mesmo antes do nascimento da criança (a decoração do quarto, as cores das roupas, os brinquedos escolhidos, etc.).

Este é um desafio que obriga os pais a estarem abertos e atentos à sociedade actual, de forma a não se deixarem guiar por uma educação baseada em valores e normas mais tradicionais dos papéis sociais masculinos e femininos. Um rapaz não o deixa de ser só por desejar brincar com bonecas, nem se deixa de ser uma rapariga por gostar de jogar à bola e subir a árvores, antes pela possibilidade de experimentação se consolida o género.

Cabe aos pais e aos educadores ir aprovando comportamentos facilitadores do bem-estar da criança durante o desenvolvimento do seu papel sexual, aceitando-o positivamente e facilitando assim o seu processo pessoal de construção da identidade sexual.

A idade dos "porquês"
O desenvolvimento da linguagem e a sua manipulação, vai permitir explorar o mundo à sua volta. Neste período surge, por volta dos três anos, a fase do "Porquê?". Nesta etapa de vida da criança, a temática sexual é quase obrigatória. Temas como as diferenças anatómicas, de roupa, de jogos, a sua origem (a célebre pergunta: "de onde vêm os bebés?"), são motivos que causam enorme interesse e curiosidade na criança.
Curiosidade pelo corpo
Paralelamente às dúvidas e curiosidades que coloca através da linguagem, a criança explorará o seu corpo, tentando conhecer e promover as sensações que produz. É a fase do reconhecimento do seu sexo, do toque e da observação. É frequente mostrar os seus órgãos sexuais, bem como compará-los com os das outras crianças para melhor se reconhecer nesse confronto com o outro.
Para os pais, o facto de uma criança explorar o seu corpo na procura de o conhecer e de sentir prazer, é uma actividade que frequentemente causa apreensão. Porém, estes comportamentos são naturais, fazem parte do desenvolvimento, e é com essa mesma naturalidade que deverão ser encarados. É possível orientar a criança, sem a culpabilizar pelo facto de ter essas manifestações na intimidade, dizendo frases do tipo: "Faz antes isso no teu quarto". Há que evitar atitudes repressivas, que podem ir no sentido inverso ao desejado: a promoção do bem-estar no seu corpo.
Ao nível do jogo, as crianças procuram brincadeiras que incluam o toque e a descoberta do corpo: brincar aos pais e às mães, aos médicos e aos doentes, etc. Estes jogos funcionam como uma ferramenta, que permitirá a comparação dos seus órgãos com os dos amigos e os dos adultos, bem como a descoberta de que lhes dão prazer. É nesta fase que provavelmente se inicia a associação entre sentimentos associados a uma vivência sexual e órgãos genitais.
Cabe aos adultos dar à criança a oportunidade de realizar com tranquilidade e sem fantasmas a exploração dos órgãos genitais. Desta forma, estaremos a contribuir para que a criança possua uma imagem corporal mais íntegra e satisfatória.

A relação triangular pai, mãe e criança

Nesta fase de descoberta dos órgãos sexuais e de observação das diferenças entre géneros, é natural que existam diferenças no relacionamento com os pais. Processa-se uma relação triangular com os dois pais e o(a) filho(a), que vai ser caracterizada, consoante o género da criança, pela atracção do pai ou da mãe numa rivalidade com o progenitor do mesmo sexo. É através deste "conflito" potencial, que será resolvido pela aproximação progressiva do pai em relação ao filho e da mãe em relação à filha (processo de identificação), que vai estruturar a criança em relação ao próprio sexo, de uma forma diferenciada para o rapaz e para a rapariga.

É fundamental os pais compreenderem, com ternura, esta fase de crescimento, marcando, no entanto, os limites dos sonhos e desejos dos seus filhos. Tal passa pela afirmação dos seus próprios afectos e pela ligação de amor entre o pai e a mãe. Os filhos devem aprender a respeitar a existência de intimidade entre os pais, sem que isso corresponda a um sentimento de perda de amor.

Ultrapassada esta fase (a denominada fase Edipiana), existe uma grande mudança na forma como as crianças vivenciam a sexualidade.


Os seis anos, e a entrada para a escola
Entre os seis e os sete anos de idade, verificam-se grandes alterações na vida da criança. Este período coincide com a entrada para a escola e, com ela, surgem novos companheiros, outros adultos, importantes aprendizagens e novas exigências pessoais e sociais.

Podes ser considerada como uma fase promotora do desenvolvimento intelectual. Nesta, a actuação dos pais e educadores deverá centrar-se na resposta sincera às questões colocadas e na promoção do diálogo, aproveitando para tal todas as situações, como são exemplo a leitura de livros, comentários a filmes e programas televisivos, ocorrências do quotidiano, etc.

Cabe aos adultos de referência reflectir sobre o que querem que seja assimilado pelas crianças. Analisar os nossos comportamentos, ponderando se estes transmitem o que pretendemos, os modelos dos quais as procuramos dotar, os horizontes que lhes apresentamos e ajudamos a descobrir. Enfim, a nossa filosofia, ideologia e atitudes influenciarão os comportamentos e sentimentos das crianças, imprimindo-lhes estes aspectos de diferentes modos para toda a vida.


Notas Finais
É importante os pais reviverem narrativamente e entre si a sua própria infância e adolescência: o modo como foram sentidas as questões, dúvidas associadas à sexualidade, o meio pelo qual acederam à informação e, a percepção e sentimentos agregados a estas informações recolhidas. Este diálogo do recordar, permite ensaiar e debater, de forma antecipada e estruturada, questões relativas à educação dos filhos do casal.

Durante a infância, as crianças questionam-se sobre os mais variados temas. Estas perguntas devem ser atendidas à medida que vão surgindo, permitindo a assimilação e estruturação das suas respostas, daí que devem ser adaptadas ao nível etário da criança. De igual modo, também noutras áreas, convém aproveitar as oportunidades que vão surgindo no quotidiano para debater estas questões. Importa que as crianças se sintam acompanhadas por pessoas nas quais confiem, adultos que vivem o que ensinam, e que são capazes de estabelecer laços afectivos. Salienta-se ainda que, o que é dito terá de ser repetido outras vezes, pois o seu crescimento possibilita uma compreensão diferente da mesma questão.

Na abordagem do tema da sexualidade, é conveniente associá-lo ao amor, à ternura, ao bem-estar e ao prazer, para que as crianças compreendam que, enquanto forem crianças, não poderão ter relações sexuais, pois o corpo não está suficientemente amadurecido. Como outras coisas na vida, elas acontecerão mais tarde.

A sexualidade, como componente da vida do indivíduo, deverá ser transmitida de uma forma positiva, salientando as qualidades da comunicação, da ternura, da transmissão dos afectos e do prazer.


O modo como a ternura , o amor e o carinho são expressos entre os pais, e de pais para filhos, é a forma mais autêntica e genuína de comunicação da afectividade e sexualidade. Como lidamos com o bebé e a criança, a acarinhamos, comunicamos com o seu corpo, conversamos, vai repercutir-se na qualidade das relações futuras, isto é, o futuro começa hoje."
Publicada por Psicólogo Bruno Pereira Gomes

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