terça-feira, 28 de setembro de 2010

Coisas que fazemos como pais e mães



Paulo Geraldo (professor e psicólogo)

Recebi esse texto na reunião da escola do meu filho e achei muito interessante repassar a mensagem para nossa reflexão.

“O menino lá em casa não faz a sua cama de manhã. Não prepara sozinho a roupa para vestir no dia seguinte e nem mochila. Não arruma os seus brinquedos e nem o seu quarto. Não tem uma rotina de horários e de atividades para cumprir conforme sua idade. A mãe tem um gosto todo material em realizar por ele essas tarefas e o pai não vê nenhum problema nisso, pois o acha muito pequeno para tarefas. Há anos que isto se passa assim, o que produz um estilo de vida.

E, depois, o pai vai levar o menino à escola, mesmo que, indo a pé, ele demorasse apenas dez ou quinze minutos. É que tem a chuva, e os atrasos, e o peso da mochila, e o perigo de atravessar a rua... E, se for na grande cidade, os assaltos... Uma vez roubaram um relógio do primo dele. Há anos que isto se passa assim, o que produz um estilo de vida.
E, depois, o menino, além de não tratar das suas coisas, também não é envolvido nas tarefas comuns da casa. Porque se puser a mesa, é certeza que quebre pelo menos um copo. Porque não é de grande ajuda, se for preciso pregar um quadro na parede. Porque se sujaria se ajudasse na pintura da sala; e seria preciso, além do mais, tomar conta dele. Melhor os adultos fazerem ou a empregada. Porque tudo está muito frio para ser ele quem vai despejar o saco do lixo lá fora, no container ou muito cedo ou muito tarde para ir sozinho à padaria... Há anos que isso se passa assim, o que produz um estilo de vida.

Hoje em dia não mexe um dedo nem sequer para colocar a cadeira no lugar. Consome as coisas que aparecem feitas, e é capaz de resmungar se não arrumaram bem suas roupas, ou se o jantar atrasou.
Entretanto, chega uma altura em que os pais ficam alarmados. Assustamo-nos quando as coisas chegam a certo ponto, quando percebemos suas atitudes. Parece para nós, que ele está ficando muito infantil, sem iniciativa e acomodado, pouco maduro para a idade. Ficamos em pânico quando o menino tem uma queda grande no rendimento escolar. Insistimos então para que ele estude, para que seja responsável na sua vida escolar...
Mas acontece que a responsabilidade não nasce senão depois de se ter cultivado cuidadosamente, demoradamente, a semente da responsabilidade. Passamos anos a fomentar no menino um estilo de vida sem compromisso e, agora, de repente, exigimos-lhe que seja responsável? Passamos anos a paparicá-lo, e agora queremos que seja maduro? Para ele ser maduro, teria sido necessário que tivesse vivido: que tivesse passado experiências diversas, que tivesse enfrentado obstáculos, que tivesse feito coisas sozinho, que tivesse errado e emendado depois os erros, que tivesse se aperfeiçoado à custa de esforço pessoal. E nós temos feito tudo para lhe evitar esses obstáculos, essas experiências e esse esforço.
É claro que, quando à altura em que precisa mesmo estudar, porque as matérias se tornaram mais difíceis, ele não capaz de fazê-lo. Pois é natural que-não tendo sido habituado ao esforço de fazer a cama, de ir a pé para a escola, de pôr a mesa, de arrumar suas coisas, de comprar pão, de fazer seu café, de cumprir horários e fazer tarefas ao menos uma vez... – não seja capaz do esforço de estudar, que é maior que os outros.
É enganoso levar o menino ao psicólogo. É enganoso pensarmos que o problema está em não saber estudar, em desconhecer as técnicas de estudo. O problema dele é... Como o educamos. Exatamente. Se quisermos mudá-lo, primeiro teremos que mudar a nós próprios e as nossas ações... Seremos capazes de mudar?

O que temos exigido de nossos filhos? Qual estilo de vida produzimos em nossos lares?

4 comentários:

  1. Oi, Jussara. Que coisa linda seu blog! Adorei sua visitinha lá no saco de farinha, e descobrir que temos mais mamães blogueiras em brasília. Beijos e prazer!

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  2. Obrigada por compartilhar excelente texto. Também o divulguei no meu blog.
    Beijos

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  3. Olá Jussara!
    Li esse texto que a Evellyn me enviou por e-mail, e o re-li em voz alta para a minha filha - na verdade era uma desculpa para a avó e o avô, que estavam ao lado, ouvirem. Porque felizmente posso me orgulhar de ter feito a minha filha, hoje com 12 anos, a ter suas obrigações, de acordo com as idades, desde sempre. Como eu escrevi para a Evellyn:
    É um texto fantástico. Desde muito cedo – ano, um ano e pouquinho, faziamos como se fosse brincadeira – coloquei a Luana para arrumar seus brinquedinhos, tinha horários para as coisas, como tomar banho, refeições, tarefas escolares e tudo mais. Desde os 6 anos ela arruma a cama, desde os 8 arruma o material escolar e uiformes sozinha, desde os 10 eu não olho mais a agenda escolar todos os dias, cabe a ela me mostrar recados importantes. Desde os 9 ela coloca e tira a mesa pra mim. É uma função familiar, um coloca, o outro tira, o outro lava a louça. Afinal, somos 3, não custa cada um fazer alguma coisa. Há aguns meses ela passou a lavar louças, que ela odeia e sente nojo, rs. Eu respondo que eu odeio cozinhar, mas tenho que fazer, não tenho? Sabe o que foi mais difícil neste tramite todo? Não foi adaptá-la as normas e rotinas, foi ouvir das pessoas que eu era um general, que coitada da criança e blá blá blá. Sabe o que eu respondia? ‘aham, sou general sim, e bate sentido pra mim por favor!’ hahahahaha. Não me arrependo, Luana me ajuda muito, sem fazer nada que não seja condizente com sua idade, e ELA MESMA chama os amigos que não fazem nada de imprestáveis, acredita? Eu sempre peço com jeitinho, com carinho, mas deixo claro que aqui em casa não tem empregada, e que cada um tem que fazer sua parte, que não é favor nenhum que estão me fazendo.
    Posso colocar o texto lá no blog também?
    Beijocas!

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  4. Fico imensamente feliz em saber que as informações que postamos são úteis e o texto é muito propício à reflexão. Podem postar como quiser não esquecendo do autor original do texto que não sou eu.

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