DOIS ANOS
O comportamento da criança aos dois anos de idade é muito mais bem organizado do que anteriormente, do ponto de vista do adulto, a ponto de às vezes cairmos na cilada de esperar uma firme melhora daqui para diante e sermos, assim, infelizmente surpreendidos quando as costumeiras dificuldades dos dois anos e meio se tornam aparentes.
Seja como for, independentemente do que possa vir depois, aqui nos dois anos ocorre um breve período de folga para a criança, assim como para a mãe. Isso porque, na maioria das crianças de dois anos, em comparação com as idades que os precedem e seguem imediatamente, essa é uma idade de acentuado equilíbrio.
As coisas são muito mais fáceis no que se refere a quase todos os terrenos de comportamento. Maior maturidade e uma alta disposição de fazer o que é capaz e não tentar esforçar-se demais para fazer as coisas de que não é capaz explicam em grande parte essa maior tranquilidade.
A criança de dois anos é muito mais segura de si no sentido motor do que era aos dezoito meses. Tem menos probabilidade de cair. Corre e sobe com mais segurança. Por isso, não precisa mais preocupar-se tanto em manter seu equilíbrio e em escorar-se, podendo assim voltar a sua atenção para outras coisas. Ademais, o adulto não precisa ficar muito vigilante para protegê-la.
É também mais segura de si no sentido da linguagem. Não só compreende agora parte surpreendente do que lhe é dito, mas a elas próprias podem em geral, usar a linguagem com notável eficiência.
Ser capaz de tornar suas necessidades conhecidas e ser compreendida pelos outros alivia grande parte da furiosa exasperação que sentia antes, quando só podia apontar e chorar, na esperança de que alguém conhecedor de suas maneiras e necessidades estivesse nas proximidades para interpretar. Aos vinte e poucos meses, uma colher errada ou um babador errado podia ser causa de longo acesso de choro.
Emocionalmente, também, a criança acha a vida mais fácil. Suas exigências não são tão fortes quanto eram. Sua capacidade de esperar um minuto ou sofrer frustração ligeira ou temporária, se necessário, aumentou tremendamente.
Além disso, as pessoas têm para ela um significado maior do que antes. Ela gosta, às vezes, de agradar os outros; e é com frequência agradada pelos outros. Por isso, pode, como não podia aos dezoito meses, fazer ocasionalmente coisas apenas para agradar pessoas, pode ocasionalmente ter o desejo de compartilhar objetos com outras crianças. Poderá, às vezes, se assim for dirigida, mostrar-se disposta a encontrar brinquedos substitutos para essas outras crianças. Isso marca toda uma nova dimensão em relações sociais, diferente daquela de seis meses antes.
A criança de dois anos é, em numerosas ocasiões, amorosa e afetuosa. Pode ser calorosamente responsiva aos outros. Isto, justamente com sua maior afabilidade, faz dela, no lar ou na escola maternal, uma pessoa muito mais fácil de lidar do que quando era mais nova. Muita coisa pode ser dita e, frequentemente, é dita em louvor da criança de dois anos. Ela é uma companheira amorosa e uma verdadeira alegria em muitos lares.
Fonte: GESSEL, Arnold. A criança do 0 aos 5 anos. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GESSEL, Arnold, A criança dos 5 aos 10 anos. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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