NOVE ANOS
Exuberante! Expansiva! Eufórica! Pronta para tudo! Assim era a criança típica de oito anos. Aos nove anos, como muitos de vocês terão observado, a criança volta à disposição mais calma dos cinco e sete anos. Vive mais dentro de si, é mais segura em seus contatos com o mundo exterior, é mais independente e autossuficiente do que a aventurosa criança de oito anos, que simplesmente não era capaz de viver sozinha.
A criança de nove anos pode ser - e de fato muitas vezes insiste em ser - extremamente independente. A seus próprios olhos, o menino é um verdadeiro homem do mundo e tende a resistir ao excesso de “mandonismo” dos pais. De fato, a criança mediana de nove anos tende a interessar-se muito mais pelos amigos do que pela família; e muitas gostariam, por pouco tempo, de retirar-se o máximo possível do círculo familiar. Sem dúvida, as opiniões dos amigos são muito mais importantes, para a maioria delas, do que as opiniões da família.
Embora a criança de nove anos possa interessar-se por adultos do ponto de vista do que podem fazer com ela – expedições, excursões, interesses partilhados – interessa-se muito menos do que antes pelo relacionamento propriamente dito. Ela deseja e precisa que sejam respeitadas sua maturidade, sua independência e sua separação.
Se deixada por sua própria conta, se tratada como a criatura amadurecida que acredita ser, a criança de nove anos geralmente se dá muito bem e mostra notável grau de autossegurança e capacidade. A idade de nove anos pode ser a do aperfeiçoamento de aptidões e de realização sólida e real. Contudo, há um lado inquietador da criança nessa idade. Ela tende a preocupar-se. Leva as coisas muito a sério. Pode ser extremamente ansiosa e pode, de fato, abater-se por alguma coisa que só provocaria breves lágrimas um ano antes.
Algumas pessoas chegam a considerar nove anos uma idade potencialmente neurótica. A criança de nove anos não apenas se preocupa demais, mas tende a queixar-se. Suas queixas podem ser simplesmente no sentido de que as tarefas impostas a ela, no lar e na escola, são “difíceis demais”. Ou podem assumir a forma de queixas físicas mais sérias. Seus olhos ardem. Suas mãos doem. Tem dor de estômago.
Essas queixas quase sempre representam verdadeiras sensações físicas de desconforto. No entanto, é interessante observar a frequência com que ocorrem em relação a alguma tarefa detestada. Seus olhos ardem quando precisa estudar. Suas mãos doem quando faz exercícios. Seu estômago dói quando tem que varrer o chão ou limpar o jardim. Ela precisa ir ao banheiro assim que chega a hora de lavar a louça. Todas essas queixas devem ser naturalmente respeitadas dentro do razoável mas, apesar disso, devem ser reconhecidas pelo que são – a maneira que a criança de nove anos tem de enfrentar uma situação desagradável. Não, em geral, como males físicos realmente perigosos.
O estágio dos nove anos pode ser em algumas crianças uma idade de considerável revolta contra autoridade. Algumas crianças de nove anos, porém, se revoltam apenas retirando-se – podem olhá-los sem vê-los quando vocês lhes dão uma ordem. E, gradualmente, as queixas, revoltas e preocupações diminuem à medida que a criança de nove anos se aproxima da pacífica idade dos dez anos.
DEZ ANOS
Se seu filho de nove anos era até certo ponto um problema para vocês com suas preocupações, suas ansiedades, seus retraimentos, suas exigências, com toda probabilidade ele mais do que compensará isso quando chegar aos dez anos. Isso porque a idade dos dez anos, pelo que diz a maioria dos pais, é uma das melhores que existem.
Talvez isso seja em parte verdade, do ponto de vista dos pais, pois para a criança mediana de dez anos a palavra dos pais será lei absoluta. Façam-lhe uma pergunta sobre quase qualquer fase de seu comportamento e ela lhes dirá: “Sim, eu posso fazer isso. Mamãe disse que eu posso fazer.” ou responderá: “Não, mamãe disse que eu não tenho idade para isso.”
Ela não apenas obedece fácil e naturalmente, mas parece esperar obedecer e adquire prestígio a seus próprios olhos pela sua obediência. “Eu procuro ser um bom menino”, lhe dirá sinceramente.
As crianças de dez anos não apenas obedecem alegremente a mamãe (e papai), mas a maioria delas está extremamente satisfeita com os pais e com o resto da família também. Perguntem-lhe o que ela mais ama no mundo e ela lhes dirá: “Mamãe e papai, é claro.”
A criança de dez anos está satisfeita não apenas com os pais e professores, mas com o mundo em geral. Está contente com a vida como a encontra e acha fácil divertir-se. É amável e amistosa para com as outras pessoas e espera que elas sejam amáveis consigo.
É prática e direta. É também flexível. Não leva as coisas muito a sério. Perguntem-lhe sobre algum comportamento, e ela responderá casualmente: “Bem, às vezes eu faço, e às vezes não faço.”
O estágio de dez anos, mais do que qualquer outro que se segue até chegar aos dezesseis anos, é uma idade de equilíbrio previsível e confortável. E nunca mais, depois dos dez anos, vocês, pais ou mães, terão exatamente a mesma calorosa e irrestrita aceitação de si, de suas ações e de seus motivos como obtêm agora de seu menino ou menina de dez anos de idade.
Fonte: GESSEL, Arnold. A criança do 0 aos 5 anos. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GESSEL, Arnold, A criança dos 5 aos 10 anos. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Ola!
ResponderExcluirJussara, adorei a matéria. Tenho uma filha de 10 anos e estou passando alguns problemas com ela, gostaria de trocar umas ideias, até eu poder leva-la ao Psicologo. Desde já agradeço!
li-linha@hotmail.com