CINCO ANOS
A idade de cinco anos assinala, em muitas crianças, um tempo de extremo e delicioso equilíbrio. “Ele é um anjo”, dizem muitas mães de meninos de cinco anos, com respeito e admiração.
“Ele é quase bom demais!”, dizem outras, preocupadas. Os cinco anos, de fato, são uma boa idade. Ficou para trás a exuberância sem limites dos quatro anos. Ficaram para trás a incerteza e imprevisibilidade dos quatro anos e meio. A criança dos cinco anos tende a ser segura, estável e bem ajustada. Segura dentro de si própria, ela é calma, amistosa e não muito exigente em suas relações com os outros.
Parece segura e capaz, porque se contenta em ficar dentro ou perto da base doméstica. Parece sentir a necessidade de lançar-se ao desconhecido, de tentar o que é difícil demais para ela. Pelo contrário, contenta-se em viver aqui e agora. Tenta só o que é capaz de realizar e, por isso, realiza aquilo que tenta. A mãe é o centro de seu mundo e gosta de estar perto dela. Gosta de fazer coisas com ela e para ela, gosta de obedecer às suas ordens. Gosta de obedecer instruções e de obter permissão. Ser um bom menino é não apenas sua intenção, mas é algo que geralmente consegue realizar. Por isso, a criança sente-se satisfeita consigo mesma, e os outros, com ela.
Muitos pais gostariam de ter de volta a dócil criança de cinco anos, quando ocorre o costumeiro rompimento de comportamento dos 5 e meio para os 6 anos e quando seu “bom” filhinho de cinco anos se torna uma criança de seis anos frequentemente muito menos do que boa.
Olhar assim para trás é, naturalmente, inútil. É como desejar que o filho de dezoito meses, quando anda pela sala muito bruscamente e pega coisas demais, estivesse de novo no estágio anterior à capacidade de engatinhar. A idade de cinco anos é, certamente, agradável para todos enquanto dura. Mas a criança em crescimento precisa de muito mais do que o equipamento de cinco anos para enfrentar o mundo. Precisa ramificar-se. la muitas vezes penetra em áreas que causam grandes dificuldades para todos os interessados. Essa é a dificuldade dos seis anos.
SEIS ANOS
A esta altura, um certo ritmo de crescimento talvez se tenha tornado evidente para vocês. Vocês terão notado que, enquanto a criança cresce, existe uma tendência de idades em que parece estar com equilíbrio relativamente bom – feliz, complacente e segura – alternarem-se com idades nas quais esse equilíbrio se rompe. Nas idades de desequilíbrio, a criança está-se lançando para fora, ou para dentro, tentando coisas novas, querendo mais, achando difícil adaptar-se aos outros, porque suas próprias exigências são muito fortes.
Assim, a tranquila criança de cinco anos é seguida pela tumultuada criança de seis anos. Na verdade, o rompimento começa por volta dos cinco anos e meio. Aos seis anos e meio, as coisas em geral já se abrandaram de novo. Mas durante um período de cerca de seis meses, por volta dos seis anos de idade, muitos pais acham extremamente difícil lidar com o filho.
O comportamento nesse tempo faz lembrar, em muitos sentidos, o que descrevemos como tipificador da criança de dois anos e meio. A criança é, antes de tudo, violentamente emocional. E, em suas emoções, funciona em extremos opostos. Ama em um minuto, odeia no minuto seguinte. Assim, pode dizer: “Eu gosto de você, mamãe”, acompanhando sua declaração com um grande abraço. No minuto seguinte, explode: “Eu odeio você!”. Essa explosão pode ser provocada por nada pior, da parte de sua mãe, do que tirar algum de seus pertences do lugar apropriado.
Acontece que a mãe não é mais o centro de seu mundo, como era quando a criança tinha apenas cinco anos. Agora “ela” quer ser o centro de seu mundo, embora não tenha, ainda, adquirido uma noção segura de si própria. Quer ficar em primeiro lugar, quer ser a mais amada, ter o máximo de tudo. A mãe foi removida para segundo lugar. E, agora, a criança joga tudo em cima dela. De tudo quanto sai errado, a mãe leva a culpa.
E muita coisa sai errada. Isso porque a criança de seis anos, como a de dois anos e meio, é muito exigente em relação aos outros e muito rígida em suas exigências. Quer que as coisas sejam exatamente assim. Não é capaz de adaptar-se. São os outros que devem adaptar-se a ela.
Além disso, tende a ser extremamente negativa em sua reação aos outros. O fato de lhe terem pedido para fazer alguma coisa é, a seus olhos, razão suficiente para recusar fazê-la.
A criança de seis anos é, porém, deliciosa em seu vigor, em sua energia, em sua disposição para qualquer coisa nova. É uma idade expansiva e a criança de seis anos está preparada para fazer quase qualquer coisa. Seu apetite por experiência nova é prodigioso.
Mas isso a leva a querer tudo de tudo. É muito difícil para ela escolher entre duas alternativas, porque deseja ambas. É também difícil para ela aceitar críticas, culpa e punição. Ela tem que estar certa. Ela tem que ser elogiada. Ela tem que vencer. É tão rígida e inadaptável em suas relações com outros quanto era aos dois anos e meio. As coisas têm de ser feitas à sua maneira. Os outros precisam ceder a ela. Se está ganhando, tudo está muito bem. Se os outros ganham, há lágrimas e acusações de que os outros estão roubando!
Assim, quando tudo corre bem, a criança pode ser cordial, entusiástica, zelosa, pronta para tudo. Mas, se as coisas correm mal, há lágrimas e acessos de raiva.
É difícil contornar essa idade na vida da criança e nem devemos desejar fazê-lo. Podemos torná-la um pouco mais fácil para criança e para nós, respeitando o fato de que ela está tendo um tempo difícil dentro de si própria, assim como em suas relações com os outros. Usem técnicas quando puderem. Contornem o maior número possível de incidentes infelizes. Introduzam pessoas de fora para ajudar a realizar as rotinas cotidianas quando puderem, pois a criança mostra-se pior com a sua mãe.
Fonte: GESSEL, Arnold. A criança do 0 aos 5 anos. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GESSEL, Arnold, A criança dos 5 aos 10 anos. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
eu gosto muito desse livro, uso com minhas filhas, tem hora q super funciona. acho q qd estamos cientes do que pode acontecer, adquirimos mais paciência.
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