terça-feira, 6 de abril de 2010

Características do comportamento da criança nas suas faixas etárias

QUATRO ANOS
Para cada idade, parece possível descobrir uma palavra ou palavras-chave que descrevem a estrutura de comportamento nesse tempo. Se pudermos descobrir e lembrar essas palavras, isso muitas vezes nos ajudará tremendamente a compreender e apreciar a criança dessa idade.
Para a criança de quatro anos, as palavras-chave estão “fora dos limites”. Se formos capazes de lembrar essas palavras e sorrir com simpatia quando as dissermos, isso poderá ser de imensurável utilidade no sentido de ajudar-nos a lidar com quaisquer crianças de quatro anos que cruzem nosso caminho. Porque a criança de quatro anos está, quase mais que a criança de qualquer outra idade, fora dos limites em quase todas as direções.
Assim, ela está fora dos limites no sentido motor. Bate, dá pontapés, joga pedras. Quebra coisas. Foge correndo. Está fora, fora dos limites emocionalmente: risadas altas e tolas alternam-se com períodos de raiva. “Você me deixa louca”, diz ela à mãe. Verbalmente, está quase mais fora dos limites que em qualquer outro aspecto. A linguagem de uma criança típica de quatro anos pode quase certamente chocar qualquer pessoa, exceto, talvez, uma calejada professora de escola maternal. Palavrões (onde ela terá ouvido esse linguajar horrível?) são predominantes. Palavras de banheiro, de eliminação, entram em uso comum. A criança não apenas as emprega incidentalmente nas situações poderiam ser apropriadas, mas pode demorar-se e fazer rimas com elas – acompanhando-as com muitas risadas tolas que parecem mostrar como aprecia plenamente sua impropriedade.
Em relações interpessoais, a criança está tão fora dos limites quanto em tudo o mais. Gosta de desafiar as ordens dos pais. De fato, parece encontrar prazer em desafiar o mais que pode. Mesmo punição severa parece ter pouco efeito corretivo. Uma terrível dureza parece tê-la dominado – ela se pavoneia, pragueja, se vangloria e desafia.
Sua imaginação também parece não ter, nessa época, limites “razoáveis”. A recém-descoberta fuga por meio da imaginação, que muitas vezes começa aos três anos e meio, pode estar em um ponto alto para o encontro de companheiros imaginários. Isso, a maioria dos pais aceita bastante bem. As gabolices da criança de quatro anos, particularmente quando parecem ao adulto meras mentiras, são menos aceitas.
No entanto, para a criança mediana de quatro anos, a linha entre fato e ficção é muito fina e flexível. Ela pode não estar realmente contando mentiras. Simplesmente é mais interessante daquele jeito e a criança pode vir a acreditar em suas próprias fantasias, que se tornam reais para ela.
Cabe a vocês, como mãe, pai ou professor, decidir até que ponto devem ser firmes em relação a todos esses comportamentos fora dos limites. Sem dúvida, existem limites.
Mesmo a situação social muito simples de um grupo de escola maternal exige certo refreamento da exuberância da criança de quatro anos. A vida no lar talvez exija mais ainda. Vocês precisam, inevitavelmente, usar de muita firmeza ao lidar com a criança de quatro anos. Mas se sentirão menos desesperados e menos encolerizados, quando lidarem com ela, se puderem ter em mente que comportar-se de maneira fora dos limites é não apenas uma etapa quase que inevitável, mas também muito necessária de desenvolvimento.
A criança de três ano e meio era, certamente, insegura demais para propósitos práticos. A de quatro, parece a maioria de nós ostensivamente segura e petulante, confiantes em sua própria capacidade. A natureza parece ter essa maneira de ir a extremos opostos à medida que a criança se desenvolve. Com o tempo, as oscilações do pêndulo se tornam menos extremas e fixam-se em uma escala mais estreita à medida em que a personalidade básica do indivíduo é menos alterada pelas mudanças da idade.
A criança de quatro anos precisa ter permissão para submeter-se a prova. Precisa ter permissão para sair à rua com sua bicicleta em ambas as direções e com limites expansivos. Esperamos que haja vizinhos que ela possa visitar, que a recebam e comuniquem a visita à mãe. Ela precisa ter permissão para correr à frente pela calçada e esperar na esquina seguinte. É surpreendentemente responsiva se lhe for permitida alguma expansão inicial. As rédeas de controle podem ser mantidas frouxas, mas há sempre aqueles momentos em que precisam ser puxadas para que se tornem curtas e firmes.

Fonte: GESSEL, Arnold. A criança do 0 aos 5 anos. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GESSEL, Arnold, A criança dos 5 aos 10 anos. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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